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Magias e Supertições

Magias e Superstições

Sempre lemos alguma coisa sobre a vida diária dos israelitas e dos cristãos primitivos, ficamos impressionados com o nível de seu envolvimento com o sobrenatural. Eles tinham consciência de que existiam no mundo fenômenos não explicados, e que havia muitas forças em operação que eles não viam nem dominavam. Essa consciência, aliada a ignorância, gerava neles um forte anseio de recorrer a magias. Não tendo muitas informações, a consciência existência de forças que se encontravam fora de seu controle logicamente os levava à superstição.

É preciso que se diga em sua defesa, porém, que os povos vizinhos praticavam habitualmente as artes da magia. Os egípcios não apenas criam nelas, mas também exercitavam regularmente. Foi exatamente a habilidade dos magos do faraó para realizar os mesmos sinais que Moisés operava que fez com que aquele rei endurecesse o coração, e resistisse às exigências do líder de Israel. Portanto, não era difícil aos israelitas acreditarem nas forças sobrenaturais.

Os judeus da antiguidade e os cristãos primitivos eram muito parecidos com as pessoas de nossa sociedade moderna, Eles criam em Deus, mas achavam que era necessário também tomar certas medidas para aplacar outras forças sobrenaturais. Muitos dos cristãos primitivos teriam entendido bem muitas das práticas supersticiosas de hoje, tais como não passar debaixo de escadas, evitar gatos pretos, quebrar espelhos, deixar calçados virados, ou jogar sal grosso para trás por sobre os ombros.

Eles também adotavam rituais semelhantes. Às vezes é difícil compreender certas atitudes deles, e chegamos mesmo a indagar: será que adoravam a Deus por desejarem comunhão com ele ou por temerem que algo lhes acontecesse se não o fizessem? Empregavam o símbolo do peixe como uma forma de testemunhar, ou como meio de constranger Deus protegê-los? As duas possibilidades são verdadeiras, Alguns compreendiam bem a liberdade que haviam obtido em Cristo, mas outros estavam apenas em busca de amuletos de sorte.

Amuletos

Desde os tempos antigos, o homem vem acreditando que, se usar ou possuir determinados objetos, eles lhe trarão boa sorte ou protegerão de males. E o uso de amuletos não era popular apenas entre os gentios; muitos israelitas também os adotavam. Tampouco ele ficou restrito às épocas de ignorância; ainda hoje há muitos que recorrem a eles.

Alguns dos lideres judeus e seus seguidores portavam amuletos. Embora tivessem uma fé monoteísta, acreditavam invocar, agradar e aplacar outras forças espirituais. Por causa disso, alguns aspectos da teologia judaica se tornaram uma complexa mistura de ideias. Às vezes parece-nos que eles esforçar-se para confiar somente em Deus, mas ao mesmo tempo sentiam que não podiam ignorar os outros espíritos.

Muitos dos amuletos que usavam tinham inscrições de palavras e frases próprias para afastar o mal. Alguns desses objetos eram de formatos especiais, de figuras sagradas, como a dos deuses da fertilidade. Os arqueólogos têm encontrado grande número desses objetos, o que vem comprovar que eram apreciados. Eles eram usados sob forma de anéis, brincos, colares, e em conchas, pedras preciosas e estatuetas (Jz 8.26).

Mesmo em anos mais recentes, já próximos da era cristã, as tradições judaicas recomendavam que o povo portasse amuletos protetores. O livro de sabá aconselhava aquele que vai viajar no sábado a carregar consigo um pé de raposa ou um ovo de gafanhoto. Os Macabeus, um grupo politico judaico, que existiu no período intertestamentário, costumavam portar amuletos de sorte.

Não era muito difícil para os judeus transporem a tênue linha que distinguiam um objeto relacionado com sua fé de um amuleto de sorte. Eles estavam sempre às voltas com esse problema. Colocavam o mezuzá nos umbrais das portas para se recordarem o sacrifício da Pascoa, mas enquanto alguns o viam apenas como apoio para sua fé, outros começavam a enxerga-lo como amuleto de sorte.

Existe a mesma confusão com relação aos seus filactérios. Os fariseus tinham o costume de amarrar esses objetos – que consistiam em caixinhas pequenas contendo versos das Escrituras – nos seus pulsos ou na testa, para dar a entender que guardavam a Palavra de Deus na mente e no coração. Mas, na verdade, muitos acreditavam que, usando-os teriam sorte, como uma benção de Deus.

Os escritos rabínicos estão cheios de conselhos supersticiosos. Eles acreditavam que uma pessoa podia lançar sobre outrem quebrantos, e que eles poderiam ser tão fortes a ponto de matar a vítima. Por isso, era necessário que andassem sempre com fitas, filactérios e certas joias.

Como a aceitação dos amuletos era geral, eles continuaram a existir no cristianismo pós-apostólico por muitos séculos, e mesmo até hoje. Alguns utilizam a figura do peixe como espécie de talismã. Outros colocavam em torno do pescoço fitas com passagens bíblicas. Mais tarde vieram as enormes coleções de lascas de madeira, que se dizia serem da cruz de Cristo; depois surgiram cravos, que asseguravam serem da mesma procedência. Guardar essas relíquias, atribuindo-lhes valor excessivo é o mesmo que usar amuletos.

Desde o inicio de sua existência como nação, o povo de Israel lutou inutilmente contra esses objetos. Vez por outra surgia um líder temente a Deus que conseguia influenciar o povo e removê-los do meio dele. Já no tempo de Jacó, Raquel pegou os deuses (Gn 31.19) do lar que havia na família, bem como brincos, e os enterrou em Siquém (Gn 35.4). “Tirai os deuses estrangeiros que estão no meio de vós”. (Gn 35.2; 31.19; Jz 24.15-23;Ex 20.3).

Neste caso, quem possuía os deuses (terafins) podia reivindicar a herança preterindo o primogênito, logo a questão não foi somente religiosa, mas também econômica. Esses deuses eram segurados nas mãos.

Terafins

Pela influencia das nações gentias, os israelitas adotaram deuses domésticos chamados “terafins” – estatuetas grandes e pequenas que para eles representavam o poder que os deuses possuíam. O povo em geral tinha muitas estatuetas, e eles não achavam que estivessem contrariando em nada a sua fé. E mantinham essas práticas apesar da Bíblia condenar abertamente a confecção de imagens de Deus (Ex 20.4).

Mical, a filha de Saul também tinha ídolos, e um deles era tão grande que, colocado na cama encoberto, passava por uma pessoa. E ela fez exatamente isso, certa vez para ajudar Davi escapar da ira de Saul (I Sm 19.13).

Assim como acontecia a outras práticas dos gentios, os reis que desejaram desarraigar do povo de Israel o costume de adorar terafins enfrentaram muita resistência nesse sentido. Os israelitas só abandonaram a idolatria após o exilio babilônico.

Tigelas Mágicas

Muitos antigos acreditavam que gravar certos dizeres na parte da frente de uma tigela de cerâmica dava muita sorte. Os arqueólogos vêm encontrando evidências de que muitos indivíduos de formação judaica e mesmo cristã utilizavam essa forma de magia. Essa era considerada “magia branca”, já que o objetivo do praticante era sempre algum beneficio, e não um malefício. As inscrições eram feitas a partir da borda da vasilha, descendo para o centro dela. Alguns desses objetos eram utilizados como pratos; mas outros eram confecções muito rústicas, o que demostra que possivelmente não eram usadas para outros fins a não ser a magia.

Existem fortes razoes para se crer que essas tigelas pertenciam a indivíduos da fé judaica e até cristãos. Uma razão é que aparece com frequência é o de Zacarias 3.2, onde Deus repreende satanás.

As provas de que os cristãos também faziam uso dessas tigelas são menos claras, mas existem bases para essa tese. Em algumas, os textos escritos parecem ser passagens do NT, embora não tão literais quanto as citações do VT. Em outras estão gravados nomes que aparentemente são ligados ao cristianismo, dentre os quais Pedro e Jesus. Contudo, essa questão não está claramente definida. Entretanto, o fato de que as inscrições estão em aramaico, e de que algumas invocam os nomes de Gabriel e Miguel, certamente sugere que a possibilidade existe.

Encantamentos

Eram formas de tentar afetar a vida de outrem para bem ou para mal por meio de dizeres ou magias. Tais práticas foram largamente empregadas durante o período da história bíblica. Josefo diz que mesmo grandes homens, como Salomão, lançavam mãos de tais recursos (Antiguidades dos Judeus, 8.2-5).

Aquele povo tinha uma fé em bênçãos e maldições, e existem abundantes evidências de que tais práticas tinham seus efeitos. Acreditasse que a feiticeira de Em-Dor tenha feito uso desse meio para invocar a Samuel de entre os mortos (I Sm 28.7).

Os cristãos primitivos encontraram grande dificuldade para combater essas práticas que estavam largamente difundidas. Eles faziam inscrições em joias e até mesmo em objetos de uso domestico. A eliminação do uso de encantamentos com seu séquito de amuletos e talismãs abriria o caminho para as bênçãos de Deus (At 19.19-20).

A leitura do fígado

Durante muitos séculos, os homens consideravam o exame do fígado de um animal como uma forma certeira de se obter orientação sobrenatural. Esse método de previsão do futuro era chamado de “hepatoscopia”, era considerado uma ciência que exigia longos estudos de que a praticasse. Os arqueólogos têm encontrado muitos modelos de fígado em argila. Juntamente com as instruções para sua leitura, indicando as colorações ou formatos que apontavam que eventos poderiam ser previstos.

Não podemos afirmar que os judeus praticassem essa forma de adivinhação, mas muitas nações vizinhas o faziam. Um exemplo bíblico disso é a alusão feita por Ezequiel de que o rei da Babilônia examinava o fígado (Ez 21.21). Mas dessa víscera um método de orientação bastante confiável.

Previsão do futuro pela água

Acredita-se que pela mistura de dois ou mais líquidos, era possível prever-se o futuro, a partir das figuras formadas. Se os líquidos não se misturassem bem, ou o fluido tomasse uma coloração escura, isso era sinal de bons augúrios.

Embora essa magia não fosse amplamente aceita entre o povo de Israel, alguns acreditam que José tenha aprendido a arte no Egito (Gn 44.5-15). Os babilônios também a praticavam.

Sacudir Flechas

Era outra forma de magia praticada na Babilônia (Ez 21.21). Consistia em sacudir algumas flechas e depois lança-las ao chão. A forma em que elas caíssem indicaria o curso de ação a ser tomado.

Existe um relato na Bíblia de uma ocasião em que o profeta Eliseu utilizou flechas de modo incomum, e que está descrita em (II Rs 13.18-19). Mas, no seu caso, tratava-se de um ato simbólico, profético, e não de uma adivinhação.

Tirar sorte

Havia diversos tipos de objetos utilizados no lançamento de sortes: varetas, dados (geralmente feitos de ossos dos dedos) e até pedrinhas. Isso foi sempre muito praticado em todo o período da história bíblica, provavelmente variando um pouco de acordo com o lugar e a época.

Essa forma de receber orientação sobrenatural era utilizada tanto por pagãos como por crentes. Esse método de adivinhação é o que demostra com maior clareza como é difícil fazer diferença entre o que é magia e o que é intervenção divina. O “Urim e Tumim”, por exemplo, que era utilizado para se consultar a Deus, talvez fosse um tipo de sorteio. Sabemos que quando os discípulos tiveram de escolher um substituto para Judas Iscariotes, fizeram um sorteio, e todos aceitaram o resultado como a expressão da vontade (At 1.26). No passado, a que mesmo os cristãos primitivos não duvidavam de que Deus pudesse manifestar sua vontade por meio de lançamento de sorte (Pv 16.33).

Astrologia

O fato dos escritores do VT condenarem fortemente a astrologia não impedia o povo de Israel a praticasse. Os babilônicos e outros povos daquela região tinham em altíssima conta a arte de consultar os astros, e lhe davam grande importância. Os profetas procuravam constantemente mostrar como era inútil e falsa essa prática ocultista (Is 47.13; Jr 10.2). Alguns escritos encontrados entre os pergaminhos de Qumran dão a entender que no período pós exílico os judeus praticado a astrologia.

Mas Deus usou um grupo de homens que aparentemente eram astrólogos, por ocasião do nascimento de Jesus, e que seguiram a estrela de Belém (Mt 2.1-12). As informações históricas dizem claramente que Deus usou os astros para transmitir mensagens a certos indivíduos (Gn 1.14; Mt 2.9). Isso pode ter contribuído de algum modo para que os israelitas adotassem a prática.

Necromancia

Durante muitos séculos, a consulta aos mortos foi uma das mais populares formas de se procurar conhecer o futuro, e ao que parece desperta muito interesse também em nossos dias. Existem muitos esquemas bem elaborados para se tentar comunicação com aqueles que se encontram do outro lado do túmulo. Mas a Bíblia repetidas vezes condena tal ato.

O rei Saul, durante o tempo em que governou, teve uma conduta vacilante com relação a questão. Inicialmente mandou banir todos os médiuns (aquele que afirma manter contato com os mortos), mas depois tentou comunicar-se com Samuel, que já havia morrido (I Sm 28.7). Isso foi prova evidente de seu declínio espiritual.

Os profetas entendiam que todas as tentativas de se fazer contato com os mortos não passavam de murmúrios sem sentido talvez com o uso de ventriloquismo (Is 8.19).

Sonhos

Os povos bíblicos davam muita importância às orientações divinas transmitidas por meio de sonhos, e algumas das interpretações eram corretas. José e Daniel, por exemplo, foram usados por Deus para dar interpretações de sonhos. E houve até quem elaborasse sistemas complicados para ajudar as pessoas a entenderem as implicações de seus sonhos. E muitos iam a extremos, tentando forjar sonhos que os ajudassem a suportar a dura realidade da vida.

As ovelhas listadas de Jacó

Segundo o texto de Gênesis 30.37-43, Jacó conseguiu um feito extraordinário na geração de ovelhas. Ele descascou algumas varas e as colocou nos bebedouros dos animais. As ovelhas que concebiam diante dessas varas tinham crias listadas ou malhadas. Isso era chamado de “simpatia”. A explicação provável e que Jacó tenha tentado aplicar uma mistura de magia popular aliada ao seu conhecimento no trato de animais. Os antigos muitas vezes recorriam a magias para obter os resultados desejados em determinadas situações.

A magia no Novo Testamento

A Bíblia contém muitos relatos de acontecimentos sobrenaturais, estranhos e inexplicáveis. Seria muito conveniente se pudéssemos anular todos eles, rotulando-os de meras fraudes que se apoiavam na ignorância popular. Mas isso seria muito simplista. Sem querer ter a pretensão de explicar todas as ocasiões em que a igreja primitiva se viu confrontada com casos de magia, vamos considerar algumas delas.

Simão, o mago (At 8.9-24). Era mágico profissional que vivia em Samaria. O povo estava muito impressionado com suas habilidades, embora a Bíblia não explique do que se tratava. Mas quando esse homem viu os apóstolos realizando milagres, ele lhes ofereceu dinheiro para que vendessem o poder do Espírito Santo. E Pedro logo o repreendeu por julgar possível adquirir por dinheiro o dom de Deus. Daí vem o termo “simonia”.

Elimas ou Barjesus (At 13.6). Foi um feiticeiro que tentou demover o procônsul da ilha de Pafos de seguir Jesus. Mas Paulo o censurou, dizendo que era cheio de engano e malícia.

A jovem de Filipos (At 16.16). Era uma jovem escrava que ganhava dinheiro para seus donos fazendo adivinhações. Quando ela viu Paulo e seus companheiros, pôs-se a segui-los, gritando que eram servos de Deus. A moça estava “possessa” por um espírito de adivinhação.

Mas Paulo se cansou daquela propaganda negativa, girou nos calcanhares e ordenou ao espírito que saísse dela, e imediatamente ele a deixou. Isso provocou violento protesto por parte daqueles que ganhavam dinheiro com os dotes mágicos da jovem.

Os filhos de Ceva (At 19.14-16). Vez por outra, os observadores dos cristãos tentavam imitar o poder que eles possuíam. Um exemplo disso foi o caso dos sete filhos de Ceva, que tentavam expulsar demônios invocando o nome de Jesus. O que se seguiu foi o episódio quase cômico, pois o espírito os atacou, bateu neles, e eles tiveram que fugir correndo, nus e muito feridos.

Simonia: Tráfico de coisas sagradas; comercio de bens espirituais, de benefícios eclesiásticos.

Bibliografia: Manual dos Tempos e Costumes Bíblicos - Autor: Willian Coleman, editora: Betânia.

Francisco Araújo Filho

Bel. Teologia


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